quarta-feira, março 21, 2007

Por que eu acho que a pasteurização cultural é uma das desgraças do mundo contemporâneo?
Não sei, não sei mesmo. Seria tão mais fácil se bastasse a gente dizer que a gente sente que é assim e pronto! Sem precisar juntar meia dúzia de gente que pensa igual, formular uma hipótese, comprovar a tal da hipótese e escrever algo pra apenas outra meia dúzia conseguir ler.
Desculpa esfarrapada ou uma explicação plausível, acho que descobri porque não consigo voltar pra universidade e terminar o diacho da monografia: PREGUIÇA!!! a mais pura, sincera e assumida preguiça. Sempre que algo mexe comigo e penso: "Putz! Rola escrever cientificamente sobre isso!", logo desisto. (Penso, logo desisto?). Me dá um profundo desânimo ver que vou ter que mais pensar sobre tal assunto e do que vivenciá-lo.
Voltanto à questão com a qual começo esse devaneio: pra quê explicar que a cada música que eu ouço, a cada leitura que faço, a cada frase que escrevo, a cada coisa que eu aprendo eu sinto um prazer imenso? Pra quê teorizar sobre o que a arte faz com quem com ela convive? Se a gente se preocupasse em propagar a arte, mais do que discutir sobre ela, talvez tivesse menos feiúra no mundo. As universidades estariam cheias de vida, cor, beleza, som... e não de pessoas que teorizam sobre essas coisas. (São as heranças do pensamento ocidental, fazer o quê?).

Mas, se fosse suficiente apenas dizer o que sinto sobre a questão que coloco, talvez parte da minha monografia tivesse algo assim:

Acho que a pasteurização cultural deixa as pessoas infelizes. Ver como única opção pra um final de dia: sentar na frente da TV pra ver uma das maravilhas do canal aberto brasileiro ou ouvir a mesmice musical nas grandes emissoras de rádio, não só limita a capacidade criadora da pessoa, como pode a deixar muito triste. Tendo como limite a boa qualidade de pensamento, de sentimento e de atitude, acho que a gente foi feito pra expandir, abrir, explodir, levar nossas possibilidades e potencialidades ao máximo. Se a gente não faz isso, não está seguindo o curso natural da vida, não está andando pra frente, enfim, como diz o outro, não está de acordo. Quem morre sem desenvolver pelo menos parte do que potencial que possui, morre devendo...

E o que o tal do mundo moderno faz? Só piora as coisas (ou é piorado por elas).
E como pasteurização cultural eu não entendo apenas o processo de chapação (leia-se homogeneização) dos produtos culturais que chegam à maioria da população. Falo também da chapação na forma de ver e viver a vida: imaginar, por exemplo, que uma vida boa e farta está diretamente ligada à capacidade de consumo.

Um exemplo:

Dois amigos conversando:
- Como você está
mulambo hoje!!! (algo tipo desengonçado)
- Estou mulambo, mas olha a marca (E mostra uma etiquetinha minúsucla, que fica grudada na nuca...)

Depois ninguém entende porque tem tanta gente lotando os consultórios dos terapeutas! Gente, a pressão é muito grande! A criança já cresce ouvindo que tem que vencer; entra na adolescência querendo impressionar; vai pro mercado de trabalho com o objetivo de se destacar e vai se tornando cada vez mais parte de uma engrenagem perversa e cruel. Nela não tem espaço pra exercermos o que eu acho que temos de mais humano: nossa capacidade de nos sentirmos únicos, nossa individualidade.

É, parte da monografia seria assim...