quinta-feira, dezembro 18, 2008

"TODOS QUEREM VOLTAR PRA NATUREZA, MAS NINGUÉM QUER IR À PÉ"

Comecei meu "ano profissional" falando essa frase, mas agora, ao final de um ano sendo o que o povo chama de ambientalista, essa frase faz mais sentido que nunca. O povo achou bonitinho e tals, a galera riu meio de soslaio, mas essa frase é certeira e vai direto ao ponto.
Pelo fato de ter contribuído para a estruturação do trabalho em Educação Ambiental numa escola, acabei recebendo esse tal título de ambientalista. Por conta dessa atribuição no trabalho, passei a ler tudo quanto há coisa sobre nós (humanidade) e as relações que esse "nós" estabelece com tudo a sua volta.
Não dá pra falar de Educação Ambiental (ou para Sustentabilidade, que seja) sem tocar nessas relações. Do contrário, iremos eternamente restringí-la a fechar a torneira enquanto escova os dentes ou apagar as luzes quando sair da sala. Não que coisas desse tipo não sejam importantes, mas estão longe de contribuir para mudanças efetivas no comportamento e percepção das pessoas.

Pois bem, voltando à frase... Quando fiz uma disciplina chamada Sociologia Ambiental, li uma coisa que na época pra mim foi uma descoberta brilhante, mas que hoje, sinceramente, me parece um tanto quanto óbvia. Castoriadis (o Cornelius), num debate sobre a "crise de energia" no final da década de 70, disse que a humanidade não está simplesmente enfrentando uma crise de energia, mas é o atual modo de vida que está em crise e numa crise lascada... Se ele disse isso há quase 30 anos, o que diríamos hoje, com o país que mais propagou esse modo de vida enfrentando uma crise sem precedentes (e isso é só o começo).
Entonces, e a tal frase do carro nisso tudo? Se a relação ainda não clareou, vamos lá...
Que "modo de vida" é esse que está em crise há tanto tempo, mas que agora está fedendo como nunca antes? É sempre o modo de vida dos outros ou eu me reconheço como alguém que também sustenta esse modo de vida?

Não é por nada não, esse modo de vida é sustentado por todos os que resumem a existência a acordar e ir pro trabalho, voltar do trabalho e ir pra televisão, sair da televisão e ir dormir e no dia seguinte fazer tudo e pra quê? Ganhar uma grana no final do mês pra poder comprar as bugingangas que o jornalzinho do Carrefour vende ao lado de mulheres ultra espertas e que usam a CUCA (ninguém merece) OU comprar um pedaço de metal com partes de plástico que andam sobre rodas de borracha que a Citröen afirmou não ser um automóvel e sim auto-estima (ninguém merece de novo) OU ainda pra poder pagar um plano de saúde (já que esse negócio de não ter tempo pra nada adoece) OU mesmo "garantir" uma tranqüila apodentadoria.
Viver assim parece que é a única maneira aceitável. Se você admite que não vê sentido nisso, você se torna um desmiolado, um preguiçoso ou um romântico...
Não é justamente na Bíblia (livro aceito como o único sagrado por tanta gente) que diz "que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?" (Ec 1-3) ou, pra quem preferir o Novo Testamento "Por isso, eu vos advirto: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porque a vida é mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes." (Lc 12, 22-23). Sinceramente, quem tem a Bíblia como "uma bíblia" pulou essas partes? Aí o perrengue é outro:

E quem é que tem que dar o primeiro passo rumo a essa mudança de direção? É sempre o outro que precisa mudar primeiro? Quais os limites que coloco pra realmente fazer as mudanças necessárias? Os limites de meus desejos e vontades pessoais?
Después, voltaremos à frase e a esse limites. Por enquanto, fico por aqui.